Arquivo para dezembro \20\+00:00 2012

O primeiro ano da docência.

Sala de Aula

O dia do conselho de classe poderia ser facilmente denominado como o dia do juízo final. O apocalipse escolar ou a chamada “revelação” é o dia como nós, docentes em início de carreira, tomamos conhecimento do sistema educacional do Estado, das atitudes dos colegas docentes e da ideia da reprodução do sistema capitalista. O dia do juízo final na escola vem dessa ideia de revelar o que realmente acontece nas escolas públicas. Antes de continuar esse texto, deixo claro que essa é a minha opinião como docente sobre as impressões que tive da escola.

Ao decorrer deste ano letivo observei diversas deficiências na estrutura e nos recursos humanos disponíveis na escola. Pontuarei tais observações para melhor análise desta reflexão. É importante ressaltar que esta análise diz respeito à disciplina de sociologia no ensino médio.

O primeiro ponto a ser ressaltado é a grande quantidade de professores de sociologia e que não são formados em ciências sociais. A maioria dos professores que lecionam a disciplina é formada em outras áreas de conhecimento. Alguns são formados na área de humanas como história, filosofia, letras e áreas afins. O mais interessante é observar que alguns docentes são formados em áreas que não possuem afinidade com a sociologia como matemática, física e outras disciplinas. Penso que esta estratégia de preencher as aulas de sociologia com profissionais que não são da área das ciências sociais gera problemas de cunho pedagógico. O arcabouço teórico destes profissionais não – sociólogos não é suficiente para apreender a realidade dos alunos e demonstrar, a partir das teorias sociológicas, o papel do indivíduo na sociedade.

Diante dessa deficiência do docente em não ser formado pelas ciências sociais acarreta, também, na didática mecanicista. Este é o segundo ponto a ser exposto nesta reflexão. O profissional ao adentrar na sala de aula se limita em cumprir os afazeres burocráticos impostos pela Secretaria da Educação. Tais afazeres ocupam a maior parte do tempo de aula, que, diga-se de passagem, é bastante limitado – 50 minutos. Sem contar que o diário de classe deve ser preenchido de forma minuciosa. Não pode ter erros e deve seguir a norma estipulada pela escola. São números, rabiscos e anotações que custam um tempo precioso para o profissional. Desta maneira sobra pouco tempo para pesquisa e analisar a real necessidade dos alunos perante a disciplina.

Outro ponto que penso ser essencial para o bom aproveitamento das aulas e dos rendimentos dos alunos é a continuidade do docente com as classes no qual ele leciona. Este problema ocorre porque muitos dos docentes são da categoria “OFA” e, portanto, sempre estão mudando de escola. Este fato acontece porque as atribuições de aulas, que ocorrem sempre no início do ano, determinam qual escola o profissional deverá lecionar. É raro quando o profissional da categoria “OFA” cria um vínculo (quase) permanente com a escola. O ensino de sociologia fica “perdido” perante os alunos. Essa é uma das reclamações dos alunos. A descontinuidade do professor nos anos seguintes. A didática muda, a relação entre o professor e o aluno muda, e essas mudanças geram conflitos.

Quero retornar ao que diz respeito ao conselho de classe. A aprovação automática é uma constante na escola. Se o docente não cumpriu com as determinações estipuladas por lei perante a sala de aula e o rendimento dos alunos, ele fica preso e limitado ao reclamar, perante o conselho, a retenção ou aprovação do aluno. Explico. Durante o ano letivo, o professor deve atribuir cinco avaliações para os alunos em cada bimestre. Essas avaliações devem ficar arquivadas em poder do professor. No final do ano letivo o professor deve apresentar ao conselho o motivo na qual ele deseja reprovar o aluno. Até aqui sem novidade. Isso é uma norma, e deve ser respeitada. O fato é que se o professor não apresenta as avaliações, este fica sem poder de veto diante do conselho.

Vamos analisar o outro lado. O lado do professor. Havia dito acima que a burocracia excessiva toma muito tempo do profissional. Imaginemos que o professor tenha a carga completa de aulas no Estado, com trinta aulas. Isso daria quinze salas de aula. Suponhamos que cada sala possua quarenta alunos. Este profissional teria então seiscentos alunos no total. Agora se cada aluno precisa ser avaliado cinco vezes no bimestre, serão no final do ano vinte avaliações. Então vamos averiguar: 600 alunos x 20 avaliações – 12.000 avaliações ao ano! Sem contar com os quinze diários que este profissional deverá preencher. Eu penso que esta tarefa é impossível meu caro leitor! Qual profissional se submeterá a trabalhar exaustivamente para o progresso de seus alunos? Serão poucos ou nenhum.

Penso que a maneira de mudar esta situação é diminuindo o número de aulas para os docentes para no máximo dez aulas com cinco salas. Mesmo porque acho difícil mudar as determinações judiciais que atuam no Estado de São Paulo. Às vezes penso que é um beco sem saída. Estou pensando em usar as “armas” do Estado contra o Estado. A lei determina cinco avaliações? Daremos cinco avaliações. Acabaríamos com a aprovação automática que tanto prejudica nossos jovens. Mas qual professor se submeteria a trabalhar por no máximo R$ 450,00? Aí entra a questão da estrutura material. Com quatrocentos e cinquenta reais é quase que impossível viver na cidade de São Paulo. Ainda mais para um profissional que frequentou de cinco a seis anos de faculdade para lecionar. É a proletarização da profissão de docente no Estado de São Paulo.

Sabemos que tudo isso que escrevi não é nenhuma novidade, mas precisava deixar este documento com as minhas primeiras impressões sobre o meu primeiro ano de docência no Estado de São Paulo.